Título: “Larga é a porta que aprofunda no inferno”: o poder eclesiástico, o controle do corpo e a conduta sexual do clero no epistolário de Pedro Damião (século XI)
Autoria: Roni Tomazelli
Orientação: Sergio Alberto Feldman
Doutorado em História
Universidade Federal do Espirito Santo – UFES
Data Defesa: 13/10/2022
Vitória – ES
Resumo: Apesar de presente desde os primeiros tempos do Cristianismo, o ideal de abstinência sexual não foi extensivamente imposto como regra canônica aos membros da Igreja até o século XI. Constantes eram as exortações dos representantes da Patrística em defesa da continência dos religiosos, uma vez que as funções que desempenhavam enquanto intermediários entre Deus e a humanidade demandavam virtudes intrínsecas ao modelo de pureza do espírito e abnegação da carne. Ainda assim, uma miríade de clérigos incontinentes – casados, em concubinato ou entregues aos impulsos da libido, com mulheres e homens – integrava o tecido religioso, político e social da cristandade latina. O alvorecer do segundo milênio, todavia, foi palco de importantes transformações no âmbito das disposições doutrinais da ortodoxia cristã, favorecendo o florescimento e a difusão dos movimentos de renovação e reforma da Eclésia romana, iniciativas estas que partiam tanto dos poderes seculares quanto eclesiásticos. Para além da meteórica ascensão política da Igreja, as reflexões e debates suscitados pelos círculos reformadores redefiniram inúmeros aspectos relativos ao controle do corpo e da sexualidade de homens e mulheres do medievo central. Foi neste contexto marcado pelos esforços de moralização e sacralização do clero – circunscrito pela historiografia ao conceito de Reforma Papal –, que atuou Pedro Damião (1007-1072), abade-eremita e cardeal-bispo italiano, considerado um dos precursores dos múltiplos movimentos de reforma que, gradualmente, foram aglutinados junto à Cúria Romana. Seus escritos, em especial, sua obra epistolar, constituem importantes fontes para o estudo das transformações que transpassaram a doutrina eclesiástica do décimo primeiro século. Ao longo de sua trajetória como prior do eremitério de Fonte Avellana e cardeal encarregado do episcopado de Óstia, Pedro Damião transitou por diferentes ambientes seculares e clericais, estabeleceu contatos e conexões com representantes de ambos os poderes, combateu severamente aquilo que considerava como desvios morais entre seus coetâneos e buscou promover de forma rigorosa seu projeto de disciplinarização dos membros da Igreja. Na tentativa de investigar sua influência e contribuição para com os esforços de redefinição das normas de controle do corpo e da sexualidade na Idade Média Central, orientamos nossos olhares para a retórica discursiva utilizada pelo clérigo italiano através de alguns de seus opúsculos, como Liber Gomorrhianus (ou “Livro de Gomorra”), dedicado a denunciar, combater e condenar a corrupção moral que se alastrava entre os membros do clero – a mais vil e abominável entre as pulsões da carne: a prática de sodomia. Em conjunto com outros de seus tratados, como os opúsculos De caelibatu sacerdotum e Contra intemperantes clericos, ambos versados na condenação ao matrimônio clerical, ou mesmo o célebre Liber Gratissimus, consagrado ao combate à simonia, Pedro Damião nos apresenta diferentes nuances do seu exacerbado rigorismo para com a conduta moral de seus pares. Amparados pelo suporte metodológico da Análise de Conteúdo e utilizando, como fundamentos teóricos, o campo da Análise do Discurso e os conceitos de identidade, alteridade e desvio, procuramos compreender como Pedro Damião e os sujeitos sociais com os quais dialogou favoreceram o recrudescimento do controle dos usos do corpo no tempo medieval.
Palavras-Chave: Sexualidade, Celibato, Reforma, Cristianismo, Medievo, Pedro Damião
Fonte: Catálogo de Dissertações e Teses Capes
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